quinta-feira, julho 27, 2006

Ninfas de Rio Maior: a inspiração pela Arte e pelo Vinho



"A Ninfa tem sido muito especial: é a representação do nosso Rio Maior",
afirma Carlos Pereira, arqueólogo na Villa Romana Riomaiorense

Por uma ligação à cidade, à tradição e para que inspire, a marca "Ninfa" espera dar um contributo na representação da cidade de Rio Maior, ao mesmo tempo que almeja representá-la condignamente pelo país e pelo mundo.
Carlos Pereira reflecte sobre as Ninfas da cidade, sobre as descobertas arqueológicas e sobre as faltas de apoio na investigação arqueológica da Villa Romana riomaiorense.

Quando a Arte e o Vinho andam de mãos dadas
É difícil chegar às escavações da Villa Romana. Além da sinalização não existir, quem não conhece não sabe da existência do barracão verde pálido, numa rua sem saída ao lado do cemitério da cidade, tão pouco sabe aquilo que encerra.

Carlos Pereira, arqueólogo de profissão, integrou a equipa que descobriu a Ninfa Fontenária em 1992. "A primeira reacção foi um raspanete ao rapaz", revela. Na verdade, o grupo de arqueólogos era constituído por alunos muito pouco inexperientes. Um deles, já com indícios de que alguma descoberta poderia ocorrer, não se privou de escavar em torno do joelho da Ninfa. O raspanete não foi injustificado, uma vez que tanta empolgação poderia ter danificado a preciosa estatueta em mármore branca.

Carlos Pereira assume que nessa noite saiu das ruinas mais tarde, já que foi necessário pôr o corpo da Ninfa a descoberto e levá-lo para um local seguro. "Não estava à espera de encontrar uma peça quase inteira na Villa", afirma.

De acordo com estudos relativos à passagem dos romanos pr terras riomaiorenses, sabe-se que a área que corresponde hoje ao território de Rio Maior integrava o município de Scallabis (actual Santarém) e estaria dividido por pequenos casais, herdades de pequena e média dimensões, algumas aldeias e outras grandes propriedades, as Villae - o caso da Villa de Rio Maior.

Na verdade os estudos apontam para que a Villa pertencesse à casa de uma família rica, que terá sido pilhada, conclusão tirada pelo estado deteriorado da maioria dos objectos encontrados.

O que levou à descoberta a Villa Romana de Rio Maior, em 1983, foram as referências existentes num livro sobre a História de Rio Maior de Francisco Pereira de Sousa, que relatam a descoberta de um lavrador que terá encontrado dois fustes de coluna de mármore. Com base nestas informações os serviços de arqueologia procederam a uma prospecção de campo, isto é, percorreram os terrenos vazios em redor e na cidade de Rio Maior, até ser localizado um com vestígios romanos. "Acredito que se fosse explorada, a Villa Romana seria certamente um dos mais importantes cartões de visita da cidade de Rio Maior", lamenta Carlos Pereira, referindo-se à inexistência de apoios no sentido de serem descobertas mais relíquias. O arqueólogo acredita que existirão muitas mais preciosidades que ainda se encontram por escavar, uma vez que a exploração da Villa Romana parou há cerca de 6 anos. Contudo, a falta de apoios não permite que se prossigam as escavações, facto que muito entristesse o arqueólogo, que considera a Ninfa uma representação fiel do rio Maior.

Ninfa Fontenária: a deusa do rio Maior
De acordo com registos antigos e o contacto com hábitos da cidade, sabe-se que as tradicionais festividades nas bocas de Rio Maior, culto pagão que celebra o Dia do Bom Verão, ocorriam ciclicamente e faziam a população de Rio Maior e arredores deslocar-se a esse local para celebrar a chegada dos dias de calor. Inicialmente, este dia ocorria na 2ªfeira da Pascoela e depois passou a celebrar-se ao Domingo. Carlos Pereira acredita que estas festas podem ser associadas ao culto da Ninfa, uma vez que se trata de uma representação de uma divindade aquática, fontenária.

É aí que que aparece a "hipótese da que Ninfa Fontenária possa ser uma representação do rio da cidade, coisa que acredito", refere Carlos Pereira. Sabe-se que o rio Maior era considerado sagrado e alvo de culto. A estátua da Ninfa representa uma figura feminina reclinada de olhos fechados, semi desnuda, com um manto que cobre apenas o baixo ventre. O braço direito encontra-se cruzado sobre o seio do mesmo lado, repousando a mão respectiva sobre o ombro esquerdo, o qual serve de apoio à cabeça adormecida. O esquerdo encontra-se abandonado sobre o leito de rochas e calhaus arredondados, sobre o qual repousa o seu corpo, a respectiva mão pousada sobre o vaso tombado, cuja base da estrutura foi perfurada para que se pudesse fixar a canalização, para que através do jarro jorrasse água.


Segundo a história, a Villa Romana data do séc. III/IV, mas existem vestígios de uma construção anterior que poderão datar do Séc. I, e terá sido abandonada no Séc. IV aquando das Invasões Bárbaras. Nesse período terá sido saqueada e ainda serviu de abrigo ou habitação temporária, pois uma das salas mais importantes, a sala circular, serviu de lixeira, acção impossível quando realizada por um romano.
Algumas peças mais importantes foram destruídas posteriormente pela população local, já que a Villa terá servido de pedreira da população riomaiorense.

A Ninfa inspira o "Ninfa"
A Ninfa repousa agora na Casa Senhorial D. Miguel.
"Ninfa" é uma tentativa de avivar memórias e de inspirar pessoas que façam com que o passado não seja esquecido e com que sirva sempre de motivo propulsor do futuro. É também um misto de simbolismo, tal como a original.
A imagem estilizada da Ninfa no rótulo, trabalho exemplarmente realizado por Bruno Rolo, preconiza o uso da inovação ao serviço da divulgação e exploração da nossa História. A rosa azul, símbolo da perfeição e do inatingível, desempenha um papel de incentivo e busca do infinito, daquilo que está para além do que é visível e sensível. "Ninfa" espera fazer parte da cidade de Rio Maior e ir mais além do que aquela que a inspirou.


Agradecimento ao Dr. Carlos Pereira que nos recebeu amavelmente no seu local de trabalho. Muito Obrigada.

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